A Odisseia de Fernão de Magalhães

Os desafios económicos, ideológicos e culturais da viagem de Fernão de Magalhães.

Há 500 anos, uma tripulação de 237 homens em cinco navios partiu de Sevilha, no oceano Atlântico, dirigindo-se para oeste, em direção aos confins do mundo conhecido. À cabeça dessa expedição seguia o capitão português Fernão de Magalhães, que fez a aposta insana de encontrar uma passagem para o oceano Pacífico através do continente americano e, do outro lado do mundo, chegar à Índia. O objetivo desta grande viagem era alcançar as Ilhas Molucas, na Indonésia, conhecidas como as Ilhas das Especiarias, que eram alvo da cobiça dos reinos rivais de Espanha e Portugal. Três anos mais tarde, a 6 de setembro de 1522, apenas 18 marinheiros moribundos, a bordo do único navio que restava, regressaram ao porto de partida. Embora o seu capitão Magalhães não voltasse com eles, tinham conseguido fazer a maior façanha marítima de todos os tempos: uma viagem de circum-navegação completa do globo terrestre pelo mar, a primeira circum-navegação. Graças às descrições de Antonio Pigafetta, o cronista que seguiu a bordo para contar a história da expedição, a rota desta odisseia excecional torna-se clara à medida que a frota de Magalhães atinge a fronteira do mundo, os limites do inexplorado. Ao longo dos quatro episódios desta série, as intervenções de especialistas permitem-nos compreender os desafios económicos, ideológicos e culturais de tal viagem, ao mesmo tempo que os grandes navegadores do nosso tempo nos fazem sentir a intensidade de uma exploração naval como esta. Marcada por sequências animadas que dão vida aos grandes momentos da aventura, a série em quatro partes conta, sob a forma de um "documentário épico", a história há muito esquecida do sonho e da ousadia de um homem que descobriu o estreito que ganhou o seu nome, um novo oceano e novos povos, naquela que foi uma extraordinária epopeia que mudou a nossa visão do mundo.

EPISÓDIOS

1 - A Partilha do Mundo

Este episódio relata o incrível desafio em que o navegador português Fernão de Magalhães se lançou e a sua determinação em levá-lo a bom porto, não deixando de questionar este contexto singular no qual uma sede de exploração náutica foi alargando, sem parar, os limites do mundo conhecido no quadro de uma acesa rivalidade geopolítica. Voltando as costas ao seu país de origem, foi ao reino de Espanha que Magalhães foi propor o seu grande projeto: a descoberta de uma passagem através da América que levaria às riquezas das Índias, incluindo o acesso e o controlo do arquipélago das Molucas, na Indonésia, terra das preciosas especiarias cujo valor de mercado superava o do ouro. Assim colocado ao comando de uma tripulação de 237 homens e de uma frota de cinco navios, o capitão Fernão de Magalhães lançou-se no Atlântico a 20 de setembro de 1519 em direção ao lado não explorado do mundo, o ponto de partida de uma empolgante epopeia cujo final ele não podia prever.

2 - Viagem ao Fim do Mundo

Após três meses de viagem, Fernão de Magalhães chega ao Brasil para se lançar na exploração das costas em direção ao sul. À medida que a frota avança, um novo mundo surge aos olhos daqueles 237 homens que descobrem as paisagens, a vida selvagem e os povos indígenas de regiões até então desconhecidas dos europeus. Como uma ideia fixa que se torna uma obsessão, Magalhães tem um único objetivo: encontrar uma passagem que lhe permita atravessar o continente e navegar, do outro lado da América, no oceano ainda desconhecido. Tratava-se de ser bem-sucedido onde Cristóvão Colombo tinha parado. Mas a continuação da aventura não será um passeio fácil. Este segundo episódio mergulha-nos no centro de uma epopeia sem precedentes, um percurso cheio de dificuldades terríveis e de desafios marítimos que se sucedem a um ritmo estonteante. Movido por uma coragem exemplar, Fernão de Magalhães enfrenta tempestades violentas e ventos contrários que vão travar e depois imobilizar os seus navios durante os seis meses do inverno austral. Além disso, tem de retomar o controlo da sua frota na sequência de um motim organizado pelos seus capitães espanhóis, e depois condenar e executar os responsáveis, decisões que se vão revelar carregadas de implicações para a continuação da viagem. Nem as condições de navegação, nem a hostilidade latente dos seus oficiais, nem mesmo a morte de vários marinheiros e a perda de um dos seus navios quebraram a sua fé inabalável na existência da tão desejada passagem.

3 - O Reino de Magalhães

Ao descobrir finalmente uma passagem que permite penetrar no continente americano, Magalhães começa a realizar o seu objetivo. Uma primeira etapa estava ultrapassada, mas o caminho antes de atingir o objetivo principal, o arquipélago indonésio das Molucas, as famosas ilhas das especiarias, ainda se anunciava longo e perigoso. Este terceiro episódio descreve as incríveis dificuldades que estavam reservadas a Fernão de Magalhães antes de ele conseguir realizar uma proeza fora do comum. A navegação no interior do estreito em barcos à vela já é algo que se aproxima da pura loucura, mas sem contar ainda com a deserção da nau San Antonio, a maior de toda a frota, aquele que levava nos seus porões a maior parte dos víveres. A alegria suscitada pela visão daquela vasta extensão de água na qual nunca ninguém tinha navegado seria afinal de curta duração. Começa então uma quase interminável travessia, com mais de três meses sem encontrarem nenhuma ilha, nenhuma terra para acostarem, levando a bordo homens esfomeados e enfraquecidos pela doença. A pouco e pouco, a morte imiscui-se nas fileiras e começa a dizimar a tripulação, enquanto Magalhães, atormentado pela dúvida, se vai aproximando inelutavelmente da linha imaginária que fazia das Ilhas Molucas um território português. A promessa que tinha feito ao rei de Espanha estaria, afinal de contas, errada?

4 - A Primeira Volta ao Mundo

Ao chegarem às Filipinas, tudo se torna claro: Magalhães tinha-se enganado, as ilhas das especiarias sempre tinham estado na metade do mundo que pertencia a Portugal. Segue-se uma sucessão de decisões que terão como única consequência colocar num impasse uma viagem da qual já não regressará.

Privados do seu capitão Fernão de Magalhães, morto na batalha de Mactan, e dos seus melhores oficiais, assassinados numa armadilha montada por um chefe filipino, a tripulação - reduzida agora a 113 homens - tem todavia de prosseguir a sua rota. É apenas no final de uma longa errância que acabam por atingir as ilhas indonésias das Molucas e carregar os porões com as tão desejadas especiarias. Em cada uma das naus que restavam, foi designado um novo capitão com o seu próprio itinerário de regresso a Sevilha. O basco Juan Sébastian Elcano, ao comando da nau Victoria, vai tentar a sorte rumo a oeste através de águas portuguesas, enquanto a bordo da nau Trinidad se vai tentar o trajeto inverso. Apanhada por terríveis tempestades durante a travessia do Pacífico, a Trinidad sofreu consideráveis perdas humanas, antes de fazer meia-volta rumo às Molucas e de a sua tripulação ser feita prisioneira pelos portugueses. Ao mesmo tempo, o capitão Elcano enche-se de coragem e, apesar das condições de navegação deploráveis, realiza a proeza inimaginável de conduzir a nau Victoria através do oceano Índico e depois seguir ao longo das costas africanas, por águas que, todavia, estavam proibidas às embarcações espanholas. No final de uma corrida contra os elementos que durou cinco meses, os 18 sobreviventes do último navio da expedição põem os pés em terra, já em Sevilha, a 8 de setembro de 1522. Como um epílogo, este quarto episódio fecha a história da imperiosa busca de Magalhães, coroada ao fim de três anos com uma conquista que haveria de ficar gravada nos anais da História: a realização da primeira volta completa ao mundo, a viagem de circum-navegação, uma façanha que durante muito tempo se manteve sem igual.

Título Original: L'Incroyable Périple De Magellan

Gênero: Documentário

Direção: François de Riberolles

País: França

Ano: 2022

Episódios: 4

Duração: 52 minutos por episódio

Áudio: Francês, Espanhol, Inglês

Legendas: Português